quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Teorias da Conspiração


Há teorias da conspiração para todos os gostos. Pessoalmente não sou muito fã do género. Mas sempre houve uma que me inquietou. Chamemos-lhe assim a teoria da conspiração. Será possível que um determinado grupo de pessoas, famílias ou grupos de interesses comuns sem um poder necessariamente formal, mas mais na sombra, conspire para manter um determinado status quo, do modo de vida ocidental, que assenta na economia de mercado, no consumo, numa fraca participação cívica, numa fraca exigência e escrutínio sobre a gestão política das suas vidas. Assim uma cena tirada do filme Nixon de Oliver Stone, quando a determinada altura existe uma suposta reunião de figuras não identificadas num rancho do Texas.
Em 1967 foi publicado um livro denominado o Relatório da Montanha de Ferro (The Report From Iron Mountain, no original), da autoria do jornalista do New York Times, Leonard Lewin, supostamente através da colaboração com uma pessoa que havia integrado o grupo de trabalho que produziu esse relatório.
O grupo, um painel formado por 15 elementos, teria sido formado em 1963, para analisar quais seriam as consequências de os Estados Unidos da América entrarem num período de paz contínua. A edição de 20 de Novembro de 1967 do U.S. News and World Report, clamava ter fontes que comprovavam a veracidade do relatório, e que o presidente Lyndon Johnson teria ficado furioso e ordenado a supressão total do mesmo.
Para a história ficou a entrada no Guinness Book of World Records, do livro como a mais bem sucedida fraude literária. Verdade ou mentira? Alguns acreditam, outros não.
Aqui um pequeno excerto do debate retirado da Wikipédia:

“(…) In the March 19 1972 edition of the New York Times Book Review, Lewin took credit for writing the book.
Consistent with the belief that the book is the result of a hoax, the idea for the Report came from Victor Navasky. In 1966, Navasky, then editor of the satiric Monocle magazine, read an article in the New York Times about a stock market downturn due to a "peace scare". This gave him an idea for a report that would get people thinking about a peacetime economy and the futility of the arms race. With these aims in mind, Lewin wrote the book.
Some who state that the book is authentic cite statements made by Harvard professor John Kenneth Galbraith in support of their claims.
On November 26, 1976, the report was reviewed in the book section of the Washington Post by Herschel McLandress, which was the pen name for Harvard professor John Kenneth Galbraith. Galbraith said that he knew firsthand of the report's authenticity because he had been invited to participate in it. Although he was unable to be part of the official group, he was consulted from time to time and had been asked to keep the project a secret. Furthermore, while he doubted the wisdom of letting the public know about the report, he agreed totally with its conclusions.(…)”


Alguns excertos do texto do livro, ou demasiado perspicaz como exercício de estilo, ou demasiado preocupante como possibilidade real (as referências de páginas são respeitantes a uma edição brasileira da editora Laudes), não esquecendo o contexto da Guerra Fria:

"A possibilidade da guerra fornece o senso de necessidade externa, sem o qual nenhum governo pode permanecer longamente no poder... A organização de uma sociedade para a possibilidade da guerra é seu principal estabilizador político" (p. 69).
"Em geral, o sistema de guerra dá a motivação básica para a organização social primária. Desta forma, ele reflete no nível social os incentivos do comportamento individual humano. O mais importante deles, para propósitos sociais, é o argumento psicológico individual para submissão a uma sociedade e a seus valores. A submissão requer uma causa; uma causa requer um inimigo" (p. 73).

"Um substitutivo viável para a guerra como sistema social não pode ser uma mera charada simbólica. Ele deve envolver um risco real de destruição pessoal real, numa escala compatível com a envergadura e a complexidade dos modernos sistemas sociais. Credibilidade é a chave... a menos que forneça uma ameaça crível de vida e morte, não satisfará a função socialmente organizadora da guerra. A existência de uma ameaça externa aceite é, assim, essencial à coesão social, bem como à aceitação da autoridade política" (p. 76).

"A guerra é a principal força motivadora do desenvolvimento da ciência, em qualquer nível, desde o abstratamente conceitual ao estritamente tecnológico... Todas as descobertas importantes sobre o mundo natural foram inspiradas por necessidades militares, reais ou imaginárias, de suas épocas... Começando com o desenvolvimento do ferro e do aço, passando pelas descobertas das leis do movimento e da termodinâmica, à era da partícula atômica, do polímero sintético, e da cápsula espacial, nenhum progresso científico importante deixou de ser, pelo menos indiretamente, iniciado com uma exigência implícita de armamento" (p. 82).

"O projeto espacial mais ambicioso e fora da realidade não pode, por si só, gerar uma ameaça externa crível. Argumenta-se, fervorosamente, que uma tal ameaça poderia se constituir na última e melhor esperança de paz, unindo a humanidade contra o perigo de destruição por criaturas de outros planetas, ou do espaço sideral. Foram propostas experiências para testar a credibilidade de uma ameaça de invasão extraterrena; é possível que alguns dos mais inexplicáveis incidentes com discos voadores, nos últimos anos, sejam de fato experiências primárias desse tipo" (p. 95).

"Um substitutivo político efetivo da guerra exigiria inimigos substitutivos... Pode ser, por exemplo, que a brutal poluição do meio-ambiente possa eventualmente substituir a possibilidade de destruição em massa, através de armas nucleares, como a principal ameaça aparente à sobrevivência das espécies" (p. 96)

"Um substitutivo de qualidade e magnitude críveis, deve ser encontrado, se uma transição para a paz é possível sem desintegração social. É mais provável, a nosso ver, que uma ameça tenha de ser inventada ao invés de ser criada a partir de condições desconhecidas" (p. 96, 97).

"É inteiramente possível que o desenvolvimento de uma forma sofisticada de escravidão possa ser um pré-requisito absoluto para o controle social, num mundo de paz" (p. 99).

Pode-se ainda ir mais longe, há teorias para tudo, decida quem quiser.

1 comentário:

Anónimo disse...

Fantástico post. muito interessante,
cumpz.